William Shakespeare – Sobre o Individualismo, o egoísmo e o altruísmo

Uma pessoa é única ao estender a mão,
e ao recolhê-la inesperadamente se torna mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.
(William Shakespeare)

 

Comentário: Vivemos em um mundo não de escassez, mas de abundância. Porém, o individualismo dilacera a possibilidade do compartilhar.Três eventos, três vidas que se foram prematuramente em um intervalo de duas semanas. Indícios de uma sociedade fragmentada, de uma naturalização da violência e uma desqualificação do valor da vida. Vejamos alguns conceitos antes de analisarmos os fatos.

INDIVIDUALISMO

O individualismo refere-se à noção de que cada um de nós é um ser autónomo, específico, com características próprias, com preferências diferentes, e diferente dos outros, sendo que todos temos direito a ser quem somos, a ser diferentes à nossa maneira, aplicando-se a máxima ‘todos diferentes, todos iguais’.
EGOÍSMO
O egoísmo tende a significar que alguém apenas pensa em si próprio, ignorando todos os outros à sua volta. Tende também a contrapor-se ao conceito de altruísmo, que se refere a alguém que não pensa apenas em si, mas pensa também nos outros.
ALTRUÍSMO

A palavra altruísmo foi criada por Auguste Comte, filósofo francês, que em 1830, a caracterizou como o grupo de disposições humanas, sejam elas individuais ou coletivas, que inclinam os seres humanos a se dedicarem aos outros. Portanto, altruísmo não é sinônimo de solidariedade como muitos pensam, é um conceito muito mais amplo. É um conceito que se opõe ao egoísmo (inclinações específica e exclusivamente individuais ou coletivas).

Altruísmo é fazer o próprio papel na vida, por gosto e vocação, com dedicação e empenho, da melhor forma possível, dando aos outros o exemplo do bom exemplo, mesmo que isto custe algum sacrifício. Altruístas os temos nos Doutores da Alegria, nos Médicos sem Fronteiras, nos Corpos de Bombeiros, nos Anjos da Estrada, nas Delegações da Cruz Vermelha. Da mesma forma, exemplos são encontrados nas vidas de Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá e Albert Schweitzer, entre outros que mostraram que ser altruístas é preocupar-se com o próximo, sem distinção de idade, gênero, credo, raça, nacionalidade, opinião política ou hábitos. Além disso, a rigor, somos todos benfeitores anônimos sempre que, com o dinheiro público, os governantes dignos e honestos executam ações para atenuar a cruel desigualdade social – o que infelizmente não ocorre tão amiúde quanto seria necessário.

OS FATOS

Em um intervalo de duas semanas assistimos a três eventos trágicos que ceifaram vidas: a garotinha atingida por um jet sky, a adolescente vitimada por um brinquedo em um parque de diversões e a ciclista atropelada por um ônibus. Embora eventos distintos, guardam correlações que merecem reflexão.

No caso da pequena Grazielly Lames, que pela primeira vez em seus tenros três anos de vida avistava o mar e pisava a areia da praia, chama-nos mais a atenção não o fato de o menor de 13 anos estar ou não conduzindo o veículo na ocasião, mas sim de ter fugido na companhia de sua mãe em um helicóptero, enquanto a criança aguardava 40 minutos por socorro. O egoísmo latente, a preocupação exclusiva com os próprios interesses e a negligência diante da responsabilidade pelo ato impediram que o mesmo helicóptero prestasse pronto atendimento à menina.

No evento do Hopi Hari, causa-nos indignação saber que o assento que vitimou Gabriela Nichimura estava inadequado para uso havia dez anos, sem que qualquer providência tivesse sido tomada. Porém, mais do que a omissão da empresa, a falta de liderança e comando, e o flagrante desrespeito às normas mínimas de segurança, foi repugnante ver o parque continuar suas atividades naquele dia fatídico e ainda abrir suas portas no dia seguinte como se tudo estivesse dentro da mais absoluta normalidade.

Por fim, a bióloga e pesquisadora Juliana Dias, que fazia da bicicleta seu meio de transporte, obedecendo às normas, à sinalização e portando os equipamentos de proteção devidos, sucumbiu após ser fechada por outro veículo que também se evadiu do local sem prestar socorro. Vítima da guerra pelo espaço urbano em uma cidade desestruturada que não consegue conferir mobilidade aos seus cidadãos.

A necessidade urgente do equilíbrio entre o individual e o coletivo é a grande lição que estas tragédias nos trazem, assumindo o papel como indivíduo, como cidadão/ cidadã, na construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que cada um tem uma responsabilidade social com a sua comunidade Como dizem: A diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem. Não é o caminho dos extremos o mais adequado, mas o do equilíbrio.

Encerrando com Luther King : “aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos”.  

 

Veja mais: Wikipédia, Tom Coelho, Renato Mayol, Infoescola.

Regina Maria Faria Gomes – Psicóloga- CRP 29086/6

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