Palavra e a responsabilidade de quem fala e de quem escuta

“A palavra é metade de quem a pronuncia, metade de quem escuta.”
Ensaios, Livro III, Capítulo XIII – “Da experiência”    Michel de Montaigne

Comentários: Michel de Montaigne,  há quatro séculos este homem pensava à frente de sua época. Suas idéias sobreviveram à passagem do tempo e, ainda hoje, permanecem atuais e transpiram sabedoria e verdade. A respeito de Montaigne, disse a filósofa Marilena Chauí: ”Seu pensamento vai e vem, dá voltas inesperadas, esconde-se atrás de meias palavras, alusões, não expressa tudo, temendo levantar suspeitas e gerar perseguições. Montaigne retrata a própria vida da consciência: o que pode haver de mais complexo e assistemático?”

Interiorizar-se, duvidar e entrar em contato com outros pontos de vista são as recomendações do filósofo francês para uma boa formação.Saber articular conhecimentos, tirar conclusões, acostumar-se à aquisição e ao uso da informação – todas essas questões tão problematizadas pelos teóricos da educação de hoje em dia estão no cerne das preocupações de Montaigne. “Para ele, a verdadeira formação residia em saber procurar, duvidar, investigar e exercitar o que é inteiramente próprio de cada pessoa”, diz Maria Cristina Theobaldo, professora da Universidade Federal de Mato Grosso.

Vai aqui uma poema de Rubens Alves para completar

De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. Veja esse poema de Fernando Pessoa, dirigido a um poeta: “Cessa o teu canto! Cessa, que, enquanto o ouvi, ouvia uma outra voz como que vindo nos interstícios do brando encanto com que o teu canto vinha até nós. Ouvi-te e ouvia-a no mesmo tempo e diferentes, juntas a cantar. E a melodia que não havia se agora a lembro, faz-me chorar…” A magia do poema não está nas palavras do poeta. Está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.

Leia o texto completo dele aqui A arte de ouvir

Sobre a Escuta analítica :O encontro analítico supõe a fala de um e a escuta de outro a respeito do inconsciente de quem fala,  Ou seja, segundo a teoria psicanalítica, nas palavras de Freud, “a consciência é todo conteúdo do qual nos apropriamos, trazemos à luz, sentimos”. Uma das ferramentas comprovadamente eficazes para trazermos à consciência esse material, é exatamente a escuta analítica, uma função que reconhece na força do encontro, a possibilidade de expressão e ressignificação dos sentidos vividos pelos/as analista e pelo/a analisando/a em seus contextos de produção. Como dizia Freud: “Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, fica convencido de que os mortais não conseguem guardar nenhum segredo. Aqueles cujos lábios calam, denunciam-se com as pontas dos dedos; a denúncia lhes sai por todos os poros”.  Sócrates já advertia: “Conhece-te a ti mesmo”. A escuta analítica, ou seja, ouvir o cliente, perceber sua dor e seu recalque, acolher seu sofrimento e devolver seus questionamentos em forma de consciência, é um desafio para o psicologo/a. Graças às pesquisas do médico Joseph Breuer  em  contato  com  sua  paciente  Anna O., posteriormente acompanhada por Sigmund Freud, uma nova experiência começou a ganhar corpo nos tratamentos de histeria aplicados na época: a escuta analítica. Freud percebeu que ao falar sobre seus problemas, os pacientes sentiam um grande alívio e diminuição dos sintomas apresentados. As pesquisas de Freud o levaram a criar a psicanálise, que propõe-se a escutar aquilo que paradoxalmente aparecia como dor intensa via contorções, paralisias, distúrbios funcionais. A importância do ver desloca-se em relação ao escutar.

Seja bem-vindo a si mesmo, a psicologia esta aqui, a partir destes estudos.

Quer ler mais leia o Trabalho de Solange Maria Serrano Fuchs : A Escuta analítica – A dimensão corporal, afetiva e sensorial na transferência 

Regina Maria Faria Gomes – CRP 29086/6

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