Segundo reportagem de Fernanda Aranda , iG São Paulo, SP aumenta em 55% entrega gratuita da “droga da obediência”
Especialistas detectam problemas e soluções no uso de medicamento empregado para tratar crianças com suspeita de déficit de atenção (TDAH).
Um levantamento feito por 40 entidades de saúde e de educação do País mostra que, no intervalo de um ano, o Sistema Único de São Paulo (SUS-SP) aumentou em 54,9% a compra e a distribuição gratuita de metilfenidato (Ritalina é o nome comercial), a chamada “droga da obediência”.
O medicamento é um estimulante cerebral usado, especialmente, em crianças do sexo masculino com até 12 anos e que se enquadram nos sintomas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) .
A doença é um dos problemas sociais mais estudados na atualidade, por psicólogos, psiquiatras, pediatras, neurologistas e professores do mundo todo.
Não foi só a rede pública paulista que registrou aumento da distribuição do fármaco entre 2010 e 2011 – conforme mapeou o Fórum sobre Medicalização da Sociedade e da Educação. Na rede de farmácias particulares o mesmo fenômeno é atestado.
Levantamento feito pelo Sindusfarma, que reúne as drogarias do País, apontou que o crescimento foi de 50% nas vendas no período de 4 anos. Entre setembro de 2007 e outubro de 2008 foram vendidas 1.238.064 caixas, enquanto entre setembro de 2011 e outubro de 2012 os números passaram para 1.853.930.
Contra e a favor
Na divisão de opiniões, os defensores do remédio apontam que ele ameniza problemas sérios e traumáticos vivenciados pelas crianças com TDAH. Para eles, o aumento da entrega nas farmácias públicas e das vendas nas unidades privadas indica acolhimento dos pacientes que antes ficavam distantes do tratamento.
“Não raro, meninos e meninas com apenas 6 anos chegam ao meu consultório afirmando que não querem mais viver, que não conseguem se relacionar na escola e na vizinhança, vivendo em solidão absoluta”, afirmou Marco Antônio Arruda que acaba de finalizar estudo que mapeou a incidência de déficit de atenção no País.
Foram avaliadas 8 mil crianças, entre 6 e 12 anos, de 18 Estados e 87 cidades brasileiras. Na pesquisa – que teve apoio de universidades da Itália e dos Estados Unidos – o índice de TDAH encontrado foi de 3,9%, montante que não variou na comparação de renda e escolaridade dos participantes.
A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo também atribui o aumento da distribuição da droga ao crescimento do número de diagnósticos. Em nota, informou que a maior entrega “está associada também a ampliação do número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no município. Eram 60 unidades em 2009 e 79 em 2012”. Segundo a nota, só recebe o medicamento a criança que tem diagnóstico respaldado por médicos especializados.
Já parte dos estudiosos enxerga exagero na utilização do medicamento. Para os integrantes do Fórum sobre Medicalização – entidade autora do levantamento feito na rede pública paulista – a “droga da obediência” pode estar sendo usada como muleta para curar comportamentos que podem ser apenas características pessoais dos pacientes, como timidez, indisciplina ou dificuldade de aprendizagem.
“Em nosso levantamento chamou atenção o aumento em progressão geométrica da distribuição deste medicamento. Não há nenhum fato concreto na saúde pública paulista que justifique os números (em cinco anos, a elevação foi de 30 vezes)”, avalia a presidente do Conselho de Psicologia de São Paulo, Carla Biancha Angelucci, que é membro do Fórum de Medicalização.
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