OS BRINQUEDOS EDUCATIVOS: e a Questão de Gênero

Menina ou menino? Ish, não dá pra saber!

Outro dia, no post sobre uma professora americana que tomou a iniciativa louvável de trabalhar gênero já com as crianças da primeira série, um leitor, o André, perguntou: “Quais seriam os beneficios que meu filho teria por brincar de boneca?”

 O fato é que todo brinquedo é pedagógico, didático, educativo, no sentido que a criança aprende com ele (não só com ele, lógico) o seu papel no mundo, e aprende o que se espera dela e como deve se comportar. Convenhamos: não é nem um pouco de coincidência que as meninas sejam incentivadas a brincar de casinha, trocar fralda de bebê, e fazer comidinha. Na vida real, é o que se espera delas também — que elas se restrinjam ao ambiente doméstico. Isso tudo é visto como “coisa de menina” (e de mulher). E depois tem gente que fala que a situação tá mudando, porque tem marido “que ajuda” em casa!

Nunca as crianças estiveram tão generizadas. Talvez isso se deva ao capitalismo estar cada vez mais voraz. Portanto, talvez compense do ponto de vista mercadológico lançar uma versão de Palavras Cruzadas ou Banco Imobiliário ou salgadinhos só para meninas. Talvez seja porque hoje consegue-se saber o sexo do bebê muito antes do nascimento. Então o bebê já é tratrado como menino ou menina ainda dentro do ventre. Quando nascer, a menina já encontrará o quarto decorado de rosa e estará pronta pra assumir seu lugar de “princesinha do papai”. O menino encontrará o quarto azul com motes esportivos e bélicos, e será preparado para protagonizar uma vida de aventuras — longe do ambiente doméstico, que isso é coisa de menina.

Uma americana fez um exercício formidável. Ela analisou uns trinta comerciais de TV que tentam vender brinquedos para meninos de 6 a 8 anos, e outros trinta para meninas da mesma idade, e anotou o vocabulário usado para comercializar cada produto. A lista original pode ser vista aqui. Deu mais ou menos isso para os brinquedos de meninas:

Praticamente tudo relacionado à moda, estilo, aparência física, e maternidade. A palavra amor é a que a mais aparece nos comerciais, mas é só ver quem lhe faz companhia pra gente supor a que tipo de amor os publicitários se referem. Amor por consumir, né?
Este é o gráfico das palavras que mais aparecem nos comerciais pra meninos:

O vocábulo mais repetido é batalha. Tem também poder, heróis, ação, derrotar, transformar, destruir etc. Amor e bebês não existem para garotos.

Mas, voltando ao questionamento do André sobre os benefícios do filho brincar com boneca, eu queria devolver a pergunta. Você vê algo de errado num mundo que relaciona todos os brinquedos pra meninos com poder, força bruta e guerra? Esses brinquedos, e toda a cultura de “menino não chora” em que seu filho está inserido, não guiam o modo como ele tentará resolver conflitos?

Que tipo de benefício têm as meninas aprendendo que é sua missão no mundo cuidar da casa? E meninos não namoram, se casam e têm filhos quando crescem?

Leia reportagem completa no Blog da Escreve Lola AQUI

Leave a Comment