O ato de testemunhar: violência, gênero e subjetividade.

Esta semana fui fazer uma visita aos cadernos Pagu,  em Cad. Pagu  no.37 Campinas jul./dez. 2011 encontrei o Dossie sobre a violência, entre eles o texto que me chamou atenção foi da autora , Veena DasO ato de testemunharviolência, gênero e subjetividade.                     

“Este texto traz algumas reflexões sobre as mulheres no contexto da Partição da Índia em 1949, que levou à criação do Paquistão, visto a partir da cultura punjabi (o Punjab era a província mais próxima da fronteira com o novo estado) e, particularmente, através dos olhos de Asha uma mulher que, aos 21 anos, em 1941, ficara viúva e passara a viver com a família do falecido marido. As transformações impostas pela Partição alteraram essa situação e levaram Asha às seguintes reflexões. A comida de uma filha nunca é pesada para os pais. Mas quanto viverão nossos pais? Quando até dois pedaços de pão são sentidos como “pesados” por nosso próprio irmão… é melhor manter a honra … e fazer sua paz… e viver onde se está destinada a viver. A exegese dessas reflexões constitui o núcleo analítico do texto. E, sobre a partição, a autora não se pergunta como os acontecimentos estavam presentes nas consciências como acontecimentos passados, mas como vieram a ser incorporados na estrutura temporal das relações.”

Como diz Martha Nussbaum mesmo quando parece que algumas mulheres tiveram uma sorte  relativa porque escaparam à violência física direta, a memória corporal de estar-com-os-outros faz com que o passado cerque o presente como atmosfera. Isso é o que quero dizer pela importância de descobrir meios de falar sobre a experiência de testemunhar: que se nossa maneira de estar-com-os-outros tiver sido brutalmente estragada, então o passado entra no presente, não necessariamente como memória traumática, mas como conhecimento venenoso. Esse conhecimento pode ser enfrentado apenas pelo conhecimento através do sofrimento.

Claramente, a terrível violência da Partição assinalou a morte do mundo como Asha o tinha conhecido. Também forneceu um novo modo como ela pode voltar a habitar o mundo. De algumas perspectivas, sua adesão ao passado pode ser lida através da metáfora da prisão – algo de que ela é incapaz de escapar. De outra perspectiva, porém, a profundidade temporal em que ela constrói sua subjetividade mostra como se pode ocupar os signos mesmos do prejuízo e dar a eles um significado não só por atos de narração, mas pelo trabalho de reparar relações e reconhecer aquelas que as normas oficiais condenaram. Vejo isso como uma metáfora apropriada para o ato de testemunhar, que é uma maneira de entender a relação entre violência e subjetividade.

Para ter acesso ao texto completo clique AQUI.

Se lhe interessar veja Aqui os alguns temas tratados no Dossiê da Violência: outros olhares:

  • A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional
  • Campos de estupro: as mulheres e a guerra na Bósnia
  • No olho do furacão: conjugalidades homossexuais e o direito à visita íntima na Penitenciária Feminina da Capital
  • “Femicídios” e as mortes de mulheres no Brasil
  • Tráfico de mulheres
  • Emma Goldman e a experiência das mulheres das classes trabalhadoras no Brasil
  • Frankenstein e o espectro do desejo
  • Cruzando fronteiras: prostituição e imigração
  • Quem chegar por último é mulher do padre: as Cartas de Perdão de concubinas de padres na baixa Idade Média portuguesa
  • Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas
  • A nova família e a ordem jurídica
  • Projetos profissionais e/ou maternidade: críticas a um dilema/sofrimento feminino (ainda) contemporâneo

 

 

Regina Maria Faria Gomes

CRP29086/6- Psicóloga

 

Leave a Comment