Hoje me encantei com um post de uma amiga feminista Tássia Veríssimo. que repasso na integra a todos/as.
Do tempo
Quem ao perder uma pessoa amada, seja por falecimento, por um belo “pé na bunda” ou por algum outro motivo, não ouviu a famosa frase “O tempo cura tudo”?
Para mim essa é uma mentira deslavada que os que nos amam nos contam cheios de boas intenções, para que a gente acredite na possibilidade mágica do esquecimento.
Não. O tempo não cura tudo. Pelo menos eu não vejo assim. Eu acredito que aquilo que esquecemos em virtude do passar dos dias, meses e anos na verdade não tinha tanta importância assim.
Pensar assim não é ser pessimista. Eu acho plenamente possível seguir em frente, ser feliz, dar a “volta por cima”, mas também acredito que muitas vezes nessa quase obrigação de sermos felizes a qualquer custo e a todo tempo a gente não se permite sofrer.
Varremos para debaixo do tapete nosso sofrimento, tomamos pílulas de felicidade instantânea e gastamos horrores em cerveja/terapia/roupas ou qualquer coisa que nos aliene por um tempo de nossa dor.
Qual o problema em sofrer? Às vezes a gente precisa sim ficar triste, chorar, ficar de luto, gritar. Por que temos que ser eternas “polianas” em seu “jogo do contente”?
Não digo para ninguém se afogar e afundar na própria tristeza porque a gente merece sim ser feliz e certamente é preciso reaprender a andar, a respirar, a sentir, a querer, a sorrir sem a pessoa ao lado, mas isso demanda tempo. Não é uma semana que vai apagar da sua vida alguém que tanto lhe marcou.
Na verdade nem uma semana, nem alguns meses, nem vários anos. Mas isso não quer dizer que a gente vá deixar de viver, sabe? Só quer dizer que tal como ferro em brasa essas pessoas deixaram sua marca eterna em nós.
Não é rasgando fotos, doando as roupas, não pronunciando o nome ou destruindo os vestígios físicos que a saudade some. Porque ela não some. Ela fica ali quietinha e em certos momentos desperta. Um perfume, uma foto, uma lembrança e abre-se a comporta para uma inundação de sentimentos.
Eu não luto para apagar minhas saudades, nem finjo não serem minhas as dores que carrego no peito. A verdadeira resiliência para mim não é simplesmente voltar ao estado original como se nada tivesse ocorrido. É sim seguir em frente, um passo de cada vez, abraçando nossos medos, nossas dores, nossos amores mil.
Seguir em frente não é esquecer quem nos marcou como se fosse nada, coisa à toa. Seguir em frente, acredito, é não ter medo de encarar que cada perda nos transforma e nos marca. É não ter medo de admitir nossas dores e mesmo assim buscar ser feliz.
Para a Bisa Bel e a Vó Lili. Meus eternos amores e minhas saudades mais fortes.