diálogo: A difícil tarefa do dia a dia

Dialogar é uma das coisas mais difíceis do mundo e muitas coisas podem sair errado. Entre os diversos problemas existe a possibilidade do falante se expressar de forma equivocada ou o ouvinte entender de forma equivocada. Uma terceira possibilidade que agrava o problema é quando estas duas coisas ocorrem no mesmo diálogo, tanto o falante quanto o ouvinte não conseguem colocar em uma perspectiva clara o que está sendo debatido. Como efeito, o desentendimento se torna inevitável.

Nossa tendência a fragmentar é mais forte que a necessidade de integrar. Não sabemos ouvir. Quando alguém nos fala, em vez de escutar até o fim o que ele tem a dizer, logo começamos a comparar o que é dito com nossas idéias e referenciais prévios. Esse processo mental — que chamo de automatismo concordo-discordo — quando levado a extremos é muito limitante. Ouvir até o fim, sem concordar nem discordar, é muito difícil para todos nós. Não sabemos como lidar — mesmo de modo temporário — com o pouco conhecido ou o desconhecido.

Um dos problemas sobre o diálogo está no conceito sobre o que é entendimento. Para muitas pessoas a ideia de entendimento é vista como uma forma de subordinação. Estas acreditam que uma pessoa lhe entendeu quando faz aquilo que lhe foi dito. Em outros casos o entendimento é visto como algo que só ocorre quando as pessoas concordam entre si num determinado tema.

Estas formas de conceber o entendimento não parecem ser suficientes para o sucesso de um diálogo e podem promover confusões. Um dos problemas quando se pensa entendimento como concordância entre as partes, pode possibilitar que o diálogo se torne um combate entre os envolvidos e alguém terá de subordinar-se. No sentido popular isso é expresso na frase “baixar a cabeça”. Neste ponto, o diálogo pode se tornar uma relação de poder e subordinação, promovendo diversos sentimentos negativos.

Um diálogo que inicia na intenção de determinar quem tem razão está pautado na ideia de entendimento como concordância entre as partes. “Se entender” nesta forma de pensar é concordar com uma das partes ou admitir a razão de uma das partes. Esta é uma forma de diálogo válida, mas não tem se mostrado muito eficiente. Parece fracassar em uma boa parte das vezes devido ao tenso clima de autoritarismo que envolve os falantes.

Origens
A palavra “diálogo” resulta da fusão das palavras gregas dia logos. Dia significa “por meio de”. Logos foi traduzida para o latim ratio (razão) mas tem vários outros significados, como “palavra”, “expressão”, “fala”, “verbo”. Dessa maneira, o diálogo é uma forma de fazer circular sentidos e significados. Num grupo que dialoga, as palavras circulam entre as pessoas, passam através delas sem que sejam necessárias concordâncias, discordâncias, análises ou juízos de valor. As palavras — e o que elas significam — são observadas tal como se apresentam à experiência imediata dos participantes.

Isso quer dizer que na experiência do diálogo a palavra liga, permeia, em vez de separar. Aglutina em vez de fragmentar. Essa noção nos leva a concluir que a interação dialógica não é um instrumento que permite que as pessoas defendam e mantenham suas posições, tal como acontece na discussão e no debate. A dinâmica do diálogo está voltada para ligações, para a formação de redes. Daí o nome de “redes de conversação”, proposto para as experiências de reflexão conjunta, geração de idéias, educação mútua e produção compartilhada de significados.

O autoritarismo surge quando se acredita que existe apenas uma forma correta de interpretar os fatos.  Atualmente se entende que existe uma infinidade de possibilidades na interpretação de um evento.

É possível interpretar qualquer fato ou evidência através de um pensamento pautado na engenharia, esta é a pergunta sobre como é feito ou ocorre um evento. Também é possível interpretar através da utilidade ou funcionalidade do que ocorreu, ou ainda, através da intencionalidade de quem relata ou interpreta os fatos. Os critérios de análise dos eventos podem ser igualmente variáveis. É possível fundamentar uma interpretação através de um intuicionismo, autoritarismo, coerentismo, consequencialismo, dogmatismo, ceticismo, racionalismo, pragmatismo e muitos outros “ismos”.

Estes “ismos” se relacionam, entre outras coisas, com a maneira da pessoa fundamentar seu critério de verdade. Em outras palavras, qual o critério alguém usa para decidir se algo é verdadeiro ou falso, se uma conclusão é adequada o equivocada.

Por meio destes pressupostos, ficamos convencidos de que já “sabemos” tudo sobre uma determinada pessoa, situação ou assunto. Convencemo-nos de que não há mais nada a aprender. Sempre que nos defrontamos com uma idéia ou situação nova, nossa tendência é compará-la de imediato com nossos referenciais, isto é, tentar enquadrá-las neles, reduzi-las a eles. Assim, é fácil deduzir que quanto mais nos agarramos a crenças mais nossa percepção e compreensão se estreitam e se tornam obscuras. A fixação em determinadas idéias constitui o principal motivo de nossa resistência ao novo e à mudança. Fecham portas e obstruem caminhos. Se pudermos suspendê-las — ainda que temporariamente —, um mundo novo se abrirá diante de nossa percepção e perspectivas novas se tornarão possíveis.

O numero de possibilidades para construção de um raciocínio é praticamente infinito, promovendo uma grande variedade de interpretações sobre um único evento. Cada pessoa constrói sua percepção através de um grupo pequeno de possibilidades e deixa para traz uma infinidade de interpretações possíveis.

Esse evento interpretativo faz do diálogo uma das tarefas mais complexas do comportamento humano. Todas as possibilidades de interpretação são válidas e isso garante para cada pessoa do diálogo uma certeza que muitas vezes é rígida e impossibilita a compreensão ou aceitação de outras formas de interpretação.

Uma confusão comum paira sobre a ideia de interpretação e eficiência. Toda interpretação é válida, mas algumas podem ser mais eficientes que outras.

Quando um diálogo ocorre pautado na pergunta pela eficiência ou consequência de uma determinada escolha ou ação, não esquecendo de incluir o sentimento dos participantes, existe uma boa possibilidade da conversa ser produtiva.

Fundamentar é teorizar de forma clara sobre um determinado evento seguindo um raciocínio que privilegie a eficiência de uma determinada ação.

Ausência de fundamentação e a falta de compromisso em entender as outras pessoas no discurso é na maioria das vezes algo motivador para o desentendimento. Debater sobre um problema exige a busca por possibilidades e o entendimento de diversas fundamentações, ainda que contraditórias. Detectar a ausência de fundamentação é o primeiro passo para manter a conversa no foco e evitar desentendimentos.

Quando num diálogo se percebe que faltou fundamentar adequadamente uma dada interpretação o mais indicado é continuar a conversa após o levantamento necessário de informações para clarear o assunto. Conversar honestamente, assumindo fragilidades,  promove bons resultados.

Mas isso não é tarefa fácil, admitir não estar preparado para um assunto é algo entendido como constrangedor para algumas pessoas e sugere inferioridade.

A falta de entendimento é um problema social que afeta todos nós de uma ou outra forma. Basicamente o principal motivo é o critério de verdade manifestado por cada pessoa, em alguns casos, de forma inflexível.

Muitos estudos fundamentam este problema e apontam para algumas soluções e observações que podem auxiliar quem deseja conhecer mais sobre o problema. Nos cursos acadêmicos de humanidades o tema é debatido e estudado por diversas fontes e perspectivas.

Vale dar uma olhadinha na perspectiva apresenta pela Elenice Aparecida de Resend que pode ser lido clicando aqui! 

O trabalho sobre hermenêutica e educação do Evandro Ghedin também é uma boa leitura. Acesse o texto clicando aqui! 

Para quem já conhece o debate sobre as questões da racionalidade, uma breve   apresentação sobre o conceito de gramática em Wittgenstein pode ser acessado Aqui!

A leitura dos livros e trabalhos indicados acima, não são leituras para quem tem pressa. Embora possuam uma linguagem clara e de fácil entendimento os problemas ali debatidos requerem um maior grau de atenção.  Não devemos esquecer que entender é tão problemático quando se expressar.

Este texto tem como proposta anunciar questões que estão sendo debatidas atualmente em algumas universidades.

Boa leitura!

Fonte de Inspiração Jefferson Silva

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